terça-feira, 18 de novembro de 2008

Encontro com… Miguel Real

PADRE ANTÓNIO VIERA – estudo para a vida

A vida e a obra do Padre António Vieira foram o tema do Encontro Com…. Miguel Real que teve lugar na Biblioteca Municipal de S. João da Madeira, pelas 17,00 horas do passado 14 de Novembro.

Numa semana em que, por coincidência, foram publicadas as duas mais recentes obras do autor editadas no âmbito das Comemorações dos 400 anos sobre o nascimento do Padre António Vieira – o romance “O Sal da Terra” baseado na vida e obra de PAV e o ensaio “Padre António Vieira e a cultura portuguesa”.

Durante cerca de duas horas e com base no conteúdo das obras acima citadas, Miguel Real desvendou-nos uma nova faceta do Padre António Vieira, menos europeia, menos barroca, mais inserida na paisagem e na sociedade brasileira, para onde o pai o levou com 6 anos de idade e onde foi educado. A especialização do autor nesta temática “vieirina” resultou do percurso que, durante 4 meses, efectuou no itinerário brasileiro de António Vieira pela Baía, Olinda, S. Luís do Maranhão, Belém do Pará e as cidades mineiras do barroco, numa iniciativa patrocinada pelo Centro Nacional de Cultura.

Tal como nos habituou nas suas anteriores obras, em que retrata com pinceladas precisas e nos faz a uma excelente contextualização, Miguel Real apresentou-nos um Padre António Vieira muito para além do missionário, do orador, do político, do diplomata, do profeta, do escritor e do nacionalista. Desvenda-nos um homem ousado para a época, uma personagem interessantíssima, um cidadão preocupado em defender os direitos dos índios do Brasil, a humanidade no tratamento dos escravos e dos negros, a competência dos judeus e dos cristãos-novos, a preservação da natureza e a conservação das tartarugas.

Apesar de Real começar por se referir a ele como um homem vencido, falhado, que até ao fim lutou por sonhos e as ideias que, em parte, só séculos mais tarde se concretizariam, neste Encontro Com… Miguel Real foi fácil compreender que as causas de António Vieira são ainda da maior actualidade e que algumas delas acabaram por ser ganhas como, por exemplo, o fim da prática da antropofagia e da monogamia pelos índios e, mais tarde, a legislação contra o assassínio de tartarugas e até a sua preservação através de projectos semi-estatais como é o projecto TAMAR, com a protecção às tartarugas e ao peixe-boi.


Quem teve o privilégio de ouvir Miguel Real foi transportado pela selva brasileira mais profunda, numa apaixonante aventura dividida em episódios fascinantes desde a sua refeição com carne de macaco com molho roxo de formiga preta até às missões ao longo do rio Amazonas, passando pelo contacto com a cultura negra dos escravos africanos e dos seus rituais como o candomblé e a capoeira.

Miguel Real nasceu em Lisboa, em 1953. É licenciado em Filosofia pela Universidade de Lisboa e Mestre em Estudos Portugueses pela Universidade Aberta. Especialista em cultura portuguesa Miguel Real é, actualmente, professor de Filosofia e colaborador do Jornal de Letras, onde faz crítica literária. Da sua obra fazem parte o ensaio, o romance, o teatro e a filosofia.

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